segunda-feira, 28 de março de 2011

Lendas do Poder

Enquanto a caravana passa... era assim que começava a lenda, acontece que a caravana decidiu não mais peregrinar, as terras benfazejas e os ventos somente a favor, não havia porque atrever-se ao desconhecido. Os nativos mostraram-se benevolentes e afáveis, presas fáceis de caminhantes com tanta bagagem e conhecimento, agora era semear e aguardar a colheita. Os primeiros tempos foram aparentemente difíceis, os principais obstáculos eram a credibilidade e a pouca visibilidade, como conquistar aqueles aborígenes e obter deles a vital colaboração?

Fundamentados em sua experiência, os entrantes procuraram perceber cuidadosamente os aspectos mais vulneráveis aos moradores locais e propor-lhes saídas e soluções sempre sonhadas, mas nunca alcançadas. A idéia mais audaciosa: aos que muito tinham foram feitas promessas e apenas promessas, a diferença não seria perceptível. Todavia, aos que pouco ou nada tinham, migalhas foram ofertadas e isso fazia muita diferença.

Aos mais providos intelectualmente foram prometidas a ética, o bem versar da economia, a distribuição apropriada e justa de bens, terras e renda, entre outros juramentos dignos de emocionar ao mais cético. Com a finalidade de viabilizar a tática, personalidades que dispunham de elevada credibilidade foram arrestados para o centro do pensar e pensaram que foram eles próprios que elaboraram a estratégia.
Bolsões de adversidade transformaram-se em bolsões de mendicantes e passaram de sonhadores miseráveis a miseráveis improdutivos, porém com a vantagem de que, agora, o sonho não precisava mais ser sonhado, pois a desdita chegava na forma de proventos com vários nomes e subterfúgios diferentes, entretanto todos palatáveis e de fácil digestão, ampliando o número de seguidores e admiradores.

Como certo volume de desventura deveria eliminado, existia a necessidade de recursos e estes deveriam ser obtidos de fontes distintas daquelas que viabilizariam sustentar o domínio em mãos seguras, pois nesse instante o gosto do poder já deveria se mostrar inebriante e não permitia significativas partições. Assim, o achatamento da pirâmide de renda foi repensado na forma de eliminar uma das categorias, dando a entender que haveria um aumento daqueles que antes nada tinham e agora eram a casta imediatamente superior.

Visto que o poder se concentra a partir da dispersão das oposições, quanto mais frágil o refletir e quanto maior a satisfação pelos bocadinhos, maior a garantia de perpetuação e menor a possibilidade de insurreições e de riscos a extensão da posse. Dessa forma, cria-se uma massa acéfala e feliz, seguidora fiel de qualquer tipo de abano dado pelos detentores das decisões e não se correm mais possibilidades de perda do mando (e do desmando).

Agora, para finalizar, agregue uma figura populista, vinculada às raízes da população-alvo e faça dela um ícone, favoreça ela acreditar na sua origem e no seu compromisso com os desfavorecidos e desamparados e a lenda se fará quase (eu disse quase) real, somente faltando o “felizes para sempre”.

Se você achou isso familiar, acredite, é lenda.

Nenhum comentário: