domingo, 20 de julho de 2008

O PARADOXO DE VALMART por Luciano Pires

Henry Ford criou em 1909 o conceito de linha de montagem, uma inovação tecnológica revolucionária. Os carros eram colocados sobre esteiras e iam passando pelos operários, que desempenhavam funções específicas. Mas não foi apenas na questão tecnológica que Henry Ford inovou. Ele tinha um ideal empresarial muito interessante, tendo lançado o conceito de responsabilidade social, por exemplo. E sonhava que cada funcionário de sua fábrica ganhasse o suficiente para comprar um automóvel Ford... Ele sabia que precisava criar uma massa crítica de consumidores, a começar por seus colaboradores, numa visão capitalista brilhante, que com o tempo foi esquecida.

Hoje vivemos uma realidade estranha.

Um operário de uma montadora, com família para sustentar, não ganha o suficiente para comprar um veículo zero quilômetro que ajuda a produzir. Mesmo que seja um carro popular. E assim a roda começa a parar.

Nesta nova sociedade capitalista globalizada, estamos vivendo aquilo que batizei de “O Paradoxo de Valmart”. Valmart vem de Wal-Mart, a monumental rede de lojas de conveniência, hoje a maior empresa do mundo, cujos executivos se orgulham de dizer que voam de classe econômica, hospedam-se em hotéis de segunda categoria em quartos duplos e não têm nenhum luxo.

O Paradoxo de Valmart consiste numa dualidade interessante. Rosvaldo, como funcionário de uma indústria, por exemplo, quer salário cada vez maior, mais benefícios, horários de trabalho menores, bônus por produtividade, celular, computador, conforto e um chefe que não encha o saco. Mas, como consumidor dos produtos da mesma indústria, Rosvaldo quer pagar preços cada vez menores, receber benefícios cada vez maiores, serviços agregados, propaganda mais abrangente....

Como empregado, Rosvaldo é um agente de aumento dos custos da empresa. E como cliente, também. Exige cada vez mais, mas quer pagar cada vez menos. Esse é o “Paradoxo de Valmart”.

Se os produtos que Rosvaldo quer não tiverem os preços que ele exige, ele compra de um chinês. E a roda pára de girar...

E as empresas, administradas pela visão de Wall Street, do máximo lucro no menor tempo possível, só sobreviverão ao Paradoxo de Valmart se Rosvaldo abrir mão de uma das pontas. E será na ponta do emprego. Rosvaldo aceitará salário menor, benefícios menores, maior carga de trabalho e chefes pocotós. Se não aceitar, será trocado por alguém que aceita. Alguém mais jovem, menos experiente, com menos autonomia. Mas mais barato.

E Rosvaldo, anestesiado pelo Paradoxo de Valmart, achará normal voar em aviões cada vez mais desconfortáveis, com serviço de bordo que é cada vez pior, mas que cobram baratinho...

E o sonho de Henry Ford terá se transformado num pesadelo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente incrível o momento em que vivemos no que tange ao imediatismo capitalista. Parece que a ascensão da China como grande fornecedora mundial de bens e serviços se estabelece de forma ''cancerígena'' na economia mundial.
Se não houver um código de ética internacional sobre as relações de trabalho e capital, a vantagem competitiva estará sempre nas mãos dos países totalitarista e que estabelecem condições medíocres de vida aos seus colaboradores.
É um caminho de retrocesso à evolução econômica da nova sociedade pós industrial.